quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O APOLÍNEO E O DIONISÍACO - Filosofia

Dionísio

O Apolíneo e o Dionisíaco 

Apolo e Dioniso em Nietzsche: a perda da proximidade com a Natureza que tinha o homem antigo*

por Benito Pepe

Há diversos deuses apresentados pela mitologia grega, o “principal” deles é Zeus que seria o “deus dos deuses” para os gregos antigos. Apollo e Dioniso, dois desses deuses da mitologia grega são tratados por Nietzsch de uma maneira bastante interessante e que contribui de maneira “espetacular” para a compreensão de sua obra, especialmente e especificamente citados em “O nascimento da tragédia” (1872). A arte grega tem origem além do homem e representa “forças” que estão presentes no Mundo.

Um dos aspectos importantes para a compreensão da “explanação” que segue, é entendermos que os deuses gregos, diferentemente do Deus da tradição judaica-cristã, são imanentes à Natureza, eles não estão fora dela; esses deuses têm um grau de pertencimento intrínseco e nascem junto com o “cosmos” diferentemente do Deus Judaico-cristão que está fora do universo e o cria para o homem. 

Portanto a Physis (“física”) grega, tem um sentido bem diferenciado de como é considerada a nossa natureza desde o período da modernidade em diante (século XV); a physis grega era qualitativa e não quantitativa como é estudada a “nossa natureza” , podemos dizê-la como aquilo que se mostra, o que aparece, o que brilha. O Thauma, o espanto, a perplexidade, admiração, estarrecimento, maravilhamento, estranhamento, que aparece na Natureza é um dos aspectos que nos seus primórdios levaram os homens à filosofia inicial e assim os primeiros filósofos são tratados como os filósofos da natureza ou physis. A physis e a filosofia são instâncias em que o thauma aparece. (1)

Uma das questões aos olhos de Nietzsche é que a Arte Apolínea surge da “alegre, necessidade da imagem”. Mas a imitação da natureza pelos gregos era totalmente diferente da imitação dessa natureza pelos modernos. Com os modernos a natureza se torna objeto. Nos gregos e por exemplo em Heráclito se dizia que a physis ama se ocultar.

Apolíneo-dionisíaco é uma expressão relativa ao que vem dos deuses: Apolo e Dioniso – expressão popularizada e tratada por Nietzsche como um contraste no livro ‘O nascimento da tragédia”, entre o espírito da ordem, da racionalidade e da harmonia intelectual, representado por Apolo, e o espírito da vontade de viver espontânea e extasiada, representado por Dioniso. Conforme diz Blackburn no verbete apolíneo/dionisíaco.

Um quadro das distinções corriqueiramente apresentadas entre Apolo e Dioniso, embora não retratem “verdadeiramente” suas essências, podem ser descritas da maneira que segue.


Apolo


Apolo:
Bela Aparência; Sonho; Forma (limite); Princípio de individuação; Resplandecente; Ordem; Serenidade; etc.

Dioniso:
Música; Embriaguez; Uno Primordial (não há forma, sem limite); Indiferenciação; Essência; Desmedida; Domínio Subterrâneo; etc.

O homem constitui um elo com o mundo. Não deveríamos nos afastar dessa realidade que era vivenciada na época antiga. “O Nascimento da tragédia” apresentado por Nietzsche, parece prever o que ocorreria com o homem 1 século depois desse livro ser publicado, hoje o homem evita toda a finitude e a “realidade” que é mostrada na tragédia grega. O homem dos nossos dias não aceita sofrer, não enfrentar a dor, não aceita a angústia, procura afastar-se de “todo mal” através de medicamentos e mais “medicamentos”, foge de tudo e de todos, utiliza-se de um movimento desenfreado, da agitação, das “atividades”, evita a solidão, não dá tempo para si próprio, tem medo do “real;” e o pior é que a “normalidade” da sociedade é uma loucura assustadora. A propósito: Quem é “louco”? Quem é “sano”?

Outra questão está ligada ao conhecimento, há uma diferenciação entre o conhecimento trágico (dos pré-socráticos) e o conhecimento racional (em Sócrates). No “conhecimento” racional valoriza-se a causalidade e o efeito, a causa e efeito não apareciam nos pré-socráticos como aparecem na contemporaneidade, mas eram imanentes, eram intrínsecas à natureza. O conhecimento racional vai se colocar acima da Arte e da Vida, e pior, começa a julgá-las. A partir de Sócrates e de Eurípides a instância mais importante passa a ser o “conhecimento” e não mais a “arte”. Platão depois, vai dizer que a “arte” é apenas uma cópia da cópia (nosso mundo) de um “original” que estaria no mundo das ideias (o mundo supra-sensível).

Com todo esse processo perdemos algo especial que vinha dos gregos originais, entre essas perdas estão o sentido de pertencimento e Valor absoluto da natureza, Conforme comenta Brockelman:

O que perdemos, portanto, foi a habilidade de ver nossa vida como parte de uma ordem e uma realidade mais amplas, para além de nossos transitórios desejos e sonhos diários. Ao ver a natureza e todo o universo como uma “matéria” posta aqui para nossa transformação e uso infinitamente produtivos, reduzimos a realidade a um mero valor extrínseco para nós; ela não é mais vivenciada como intrinsecamente valiosa em si. Por conseqüência, perdemos todo senso de pertencer a um drama e a uma realidade mais vastos e significativos. (2001, p.23)

Abraços do Benito Pepe.


Confira a fonte original e o site de Benito Pepe.

*Publicado com permissão do autor.


Um comentário:

  1. Obrigado pela publicação do meu texto amigo Jerri Dias. Vou divulga-lo agora no meu perfil do Facebook.
    Abraços, Benito Pepe

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